O ano era 2012 e eu estava no começo de namoro com o Rodrigo (meu digníssimo marido). Era época do Playstation 3 e eu jogava os jogos mais mainstream, principalmente os grandes exclusivos da Sony (Uncharted, Killzone, Infamous… bons tempos). Já o Rodrigo era do lado verde da força e jogador dos mais variados tipos de RPG, mas para agradar sua futura esposa, comprou um Playstation 3. Até que ele me mostra um jogo e fala: ‘Gostaria que você ‘tentasse’ jogá-lo’. O jogo? Essa belezinha logo abaixo:
E desde então eu nunca mais fui a mesma jogadora.
Conheça o jogo: Dark Souls é um RPG de ação e fantasia sombria desenvolvido pela FromSoftware e publicado pela Namco Bandai Games. Lançado originalmente em setembro de 2011 para PlayStation 3 e Xbox 360, é um sucessor espiritual de Demon’s Souls. O jogo se popularizou pela dificuldade, combate estratégico e jogabilidade punitiva, e apesar de Demon’s Souls ter sido o primeiro do gênero, foi com Dark Souls que a FromSoftware conquistou seu lugar na indústria dos games.
Um começo nada promissor
Meu primeiro contato com Dark Souls tinha tudo pra dar errado. Estava na casa do Rodrigo e ele decidiu me mostrar um pouco do jogo antes de emprestá-lo para mim. Uma informação bem importante: eu nunca tinha jogado RPG antes, nada, nenhum subgênero, nem Final Fantasy (pra mim RPG na época era isso). Mas porque, Ana? Simplesmente porque o gênero não me interessava, seria necessário me dedicar em muitos aspectos que eu não queria, e eu conhecia mais RPG pelas batalhas de turno, que eu de verdade achava muito chato (mas eu iria pagar a língua anos mais tarde). Na época eu gostava de jogos sem muita enrolação, upgrades de personagens e equipamentos simples, história direta. Então, só de ver a criação do personagem, escolha de classe, saber que eu teria que distribuir pontos, já me deu aquela coceira. Maaaaas era começo de namoro, estava apaixonada, não queria dizer ‘não’ logo de cara, então decidi dar uma chance.
Ele começou um jogo novo para me mostrar desde o início: na criação de personagem escolhemos um guerreiro e como item inicial a Master Key, pois ele disse que seria bastante útil para abrir alguns portões. Não me apeguei a muitos detalhes na criação do personagem (ainda), pois queria só ver qual era a do jogo. Ao prosseguir, vimos a primeira cutscene, também sem me atentar aos detalhes, e assim começamos com meu personagem preso em uma cela, onde uma chave é jogada e, então, inicia-se nossa jornada.
Na hora que comecei a andar com o personagem eu já pensei: ‘pqp que boneco pesado do car****!’. Eu estava acostumada com jogos frenéticos, movimentação rápida, e já estava vendo minha paciência indo embora nos primeiros minutos de jogo. Mas, continuei. Mais alguns passos com algumas marcações no chão, mostrando um tutorial bem simples ensinando as mecânicas básicas. Quando chegou no primeiro inimigo, um morto-vivo mais coitado que tudo, e foi necessário dar 3 ataques com uma espada quebrada (sim, essa era a arma inicial do personagem), já comecei a sentir meu olho pesando. Cheguei na primeira bonfire. Para contextualizar melhor: Dark Souls popularizou o segmento de jogos difíceis. Não só as batalhas contra os inimigos, diversas mecânicas foram criadas para tornar a experiência mais desafiadora. Uma delas é o fato de que o jogo não é salvo automaticamente, indo na contramão dos principais jogos da época. Para salvar, subir de nível e outras coisas, era necessário encontrar a bonfire (fogueira em inglês). Por isso que encontrar uma bonfire era como sentir uma leve brisa no rosto, uma sensação de alívio, como comer um chocolate na TPM, acordar em um domingo de manhã chuvoso, dar um abraço em alguém especial. Durante um bom tempo eu me sentia mais feliz em encontrar uma bonfire do que comer um prato de strogonoff.
Brincadeira gente, é que só quem joga Dark Souls conhece esse sentimento.
Chegando no primeiro boss, ele me diz o seguinte: ‘Conheço um pessoal que desistiu do jogo nesse primeiro boss, vamos ver se você descobre o porque.’. Muito bom! Eu já não estava muito interessada, mas prossegui.
Assim que entrei, pulou um ser umas 50 vezes maior que meu personagem, onde só o porrete dele era do meu tamanho. Não sei se foi um instinto de sobrevivência, mas algo me dizia que não era pra eu derrotar aquele boss no momento. Se eu tive que dar 3 golpes pra matar um morto-vivo que mal se mexia, quem dirá um monstro desse.
Fui correndo até o boss, dei um ataque com a minha espada quebrada e devo ter tirado uns 0,1 % da vida dele. É, não era mesmo pra eu atacá-lo. Sai rolando até uma distância segura mas não teve jeito, tive minha primeira morte no Dark Souls, a primeira de centenas. Na próxima tentativa pensei: ‘Vou sair correndo em volta na área do boss pra ver se tem algo’. E bingo! Tinha uma portinha sem vergonha que quase não era possível ver, e se você não fosse um masoquista e tentasse matar o boss mesmo assim, era nessa porta que você deveria ir (isso na primeira vez que joga, pois na segunda é possível matar esse boss). E então o Rodrigo me disse: ‘Parabéns, você já foi melhor que muitas pessoas’. Apesar do meu progresso, não estava muito motivada a continuar jogando, e então pedi pro Rodrigo jogar que eu ficaria vendo-o. Estávamos sentados na cama, deitei a cabeça no colo dele, e depois de alguns minutos vê-lo jogando, eu … cochilei. Juntou os seguintes fatores: 1) Eu amo tirar sonecas vespertinas; 2) Tinha almoçado; 3) O jogo tinha uma pegada mais lenta, de exploração, e isso foi me dando aquele soninho bom.
De fato, era para eu ter desistido do jogo logo ali, nada era promissor. Mas, se tem uma coisa que eu aprendi com o tempo é a persistência do Rodrigo. Quando fui pra casa ele insistiu: ‘Leve o jogo, dê mais uma chance pra ele’. Que bom que ele insistiu e que eu dei mais uma chance, pois minha vida mudaria completamente, não só com relação ao que eu jogo, mas pras coisas da vida mesmo, como trabalho, gostos pessoais, e até de evoluir como pessoa mesmo.
Hora de jogar Dark Souls ‘sozinha’.
Bem, eh, mais ou menos. Levei o jogo pra casa sem muitas expectativas. Na época eu assinava a revista Playstation, em uma delas tinha um detonado de Dark Souls (gente, sério, detonado, não sei se ainda hoje tem revistas assim, mas é muito nostálgico, e só de pensar que isso já faz 13 anos, me sinto muito velha mesmo.) E eu resolvi seguir o detonado, afinal, o jogo era difícil, nunca tinha jogado RPG, então não teria problema em dar uma ‘roubadinha’. E também queria impressionar o Rodrigo mostrando que eu era capaz de terminar o jogo.
O começo do jogo não tinha muito segredo, era só refazer o que já tinha jogado na casa do Rodrigo. Logo depois da primeira passagem pelo boss que já citei anteriormente passei a acompanhar o detonado, assim não precisaria ter que ficar descobrindo tudo. Aprendi mais algumas mecânicas, peguei meu primeiro escudo e fui atacada por uma bola de ferro descendo com toda velocidade em uma escada (ainda vai ter muito sustinho no jogo). Após uma volta no lugar onde estava, voltei ao boss, mas dessa vez com uma espada inteira e mais forte e com uma nova mecânica, o plunging attack, que eu usaria bastante dali pra frente. No plunging attack, você ataca o inimigo de cima, dando muito mais dano. Só com esse ataque foi 50% de vida do boss, mas ainda assim não foi tão simples. Na época eu jogava bastante hack and slash, jogos com estilo de combate mais frenético e corpo a corpo, porém em Dark Souls você deve ir com cautela, conhecer o inimigo e atacá-lo no momento certo. Bater sem estratégia é morte na certa. Primeiro aprendizado que tive em Dark Souls. Ali conheci um estilo de combate totalmente novo pra mim, e até mesmo pros jogos que tínhamos na época, tanto que esse estilo de combate junto com outras características do jogo criou um novo sub gênero: o souls-like (que virou meu estilo de jogo preferido).
Consegui derrotar o boss e passar da primeira parte do jogo, e então cheguei em Firelink Shrine, o lugar onde só de ouvir a músiquinha que toca me dá um quentinho no coração (é como se fosse a área central do jogo). Com algumas almas que juntei ao matar os inimigos e o primeiro boss, fui subir de nível pela primeira vez. Bom, sem conhecimento nenhum pensei: ‘Vou tacar força nesse cara aqui!’. E assim fiz por um bom tempo, sempre que precisava subir de nível, aumentava a força. Obviamente essa não era a melhor estratégia, mas deixaremos isso mais pra frente. Ainda em Firelink Shrine encontrei alguns NPC’s e notei algo que seria muito comum na série souls: pra que caralhos de lugar eu vou agora?
‘Ah Ana, você tem o detonado, assim fica fácil, é só seguir’. Bom, preciso adiantar que eu desisti do detonado um pouco depois de chegar em Firelink, mas isso será assunto para a próxima parte da minha saga em Dark Souls, pois não caberia tudo em um post, muita coisa aconteceu e quero lembrar de todos os detalhes que puder, e também não deixar o texto longo demais. Fora que, isso aconteceu há 12 anos atrás, eu joguei Dark Souls um pouco depois do lançamento e era realmente um jogo pouco conhecido do grande público. Eu mesma nunca tinha ouvido falar, por isso é importante não deixar de lado algumas oportunidades que temos de experimentar algo novo. Se eu não tivesse jogado Dark Souls, provavelmente não teria jogado Hollow Knight, The Witcher 3 e Baldur´s Gate 3. Não teria me apaixonado por jogos difíceis, me aprofundado em belas histórias, ter me encantado com obras medievais.
No próximo post sobre Dark Souls vou contar como foram os primeiros desafios, como fui aprendendo a subir meu personagem e nível e como passei o jogo usando um porrete.
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